segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Gênesis 12-25

Deus chama Abrão

Certo dia o Senhor Deus disse a Abrão:
— Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa do seu pai e vá para uma terra que eu lhe mostrarei. Os seus descendentes vão formar uma grande nação. Eu o abençoarei, o seu nome será famoso, e você será uma bênção para os outros. Abençoarei os que o abençoarem e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem. E por meio de você eu abençoarei todos os povos do mundo.
Abrão tinha setenta e cinco anos quando partiu de Harã, como o Senhor havia ordenado. E Ló foi com ele. Abrão levou a sua mulher Sarai, o seu sobrinho Ló, filho do seu irmão, e todas as riquezas e escravos que havia conseguido em Harã. Quando chegaram a Canaã, Abrão atravessou o país até que chegou a Siquém, um lugar santo, onde ficava a árvore sagrada de Moré. Naquele tempo os cananeus viviam nessa região. Ali o Senhor apareceu a Abrão e disse:
— Eu vou dar esta terra aos seus descendentes.
Naquele lugar Abrão construiu um altar a Deus, o Senhor, pois ali o Senhor havia aparecido a ele. Depois disso Abrão foi para a região montanhosa que fica a leste da cidade de Betel e ali armou o seu acampamento. Betel ficava a oeste do acampamento, e a cidade de Ai ficava a leste. Também nesse lugar Abrão construiu um altar e adorou o Senhor. Dali ele foi andando de um lugar para outro, sempre na direção sul da terra de Canaã.

Abrão no Egito

Naquele tempo houve em Canaã uma fome tão grande, que Abrão foi morar por algum tempo no Egito. 
Quando ia chegando ao Egito, Abrão disse a Sarai, a sua mulher:
— Escute! Você é uma mulher muito bonita, e, quando os egípcios a virem, vão dizer: “Essa aí é a mulher dele.” Por isso me matarão e deixarão que você viva. Diga, então, que você é minha irmã. Assim, por sua causa, eles me deixarão viver e me tratarão bem.
Quando Abrão chegou ao Egito, os egípcios viram que Sarai, a sua mulher, era, de fato, muito bonita. Alguns altos funcionários do rei do Egito também a viram e contaram a ele como era linda aquela mulher. Por isso ela foi levada para o palácio do rei.
Por causa dela o rei tratou bem Abrão e lhe deu ovelhas, bois, jumentos, escravos e escravas, jumentas e camelos. Mas, por causa de Sarai, o Senhor Deus castigou o rei e a sua família com doenças horríveis. Por isso o rei mandou chamar Abrão e perguntou:
— Por que você me fez uma coisa dessas? Por que não me disse que ela é a sua mulher? Você disse que ela era sua irmã, e por isso eu casei com ela. Portanto, aqui está a sua mulher; saia daqui com ela!
Então o rei deu ordem, e os seus guardas levaram Abrão para fora do Egito, junto com a sua mulher e com todas as coisas que eram dele.


Abrão e Ló se separam

Abrão saiu do Egito com a sua mulher e com tudo o que tinha e foi para o sul de Canaã. E Ló, o seu sobrinho, foi com ele. Abrão era muito rico; tinha gado, prata e ouro. Ele foi de um lugar para outro até chegar à cidade de Betel; e dali foi para o lugar que fica entre Betel e Ai, onde já havia acampado antes. Abrão chegou ao altar que ele havia construído e adorou a Deus, o Senhor.
Ló, que ia com Abrão, também levava ovelhas, cabras, gado, empregados e a sua família. Não havia pastos que dessem para os dois ficarem juntos, pois eles tinham muitos animais. Por isso os homens que cuidavam dos animais de Abrão brigavam com os que tomavam conta dos animais de Ló. E nesse tempo os cananeus e os perizeus ainda estavam vivendo ali. Um dia Abrão disse a Ló:
— Nós somos parentes chegados, e não é bom que a gente fique brigando, nem que os meus empregados briguem com os seus. Vamos nos separar. Escolha! A terra está aí, toda ela. Se você for para a esquerda, eu irei para a direita; se você for para a direita, eu irei para a esquerda.
Ló olhou em volta e viu que o vale do Jordão, até chegar à cidade de Zoar, tinha bastante água. Era como o Jardim do Senhor ou como a terra do Egito. O vale era assim antes de oSenhor haver destruído as cidades de Sodoma e de Gomorra. Ló escolheu todo o vale do Jordão e foi na direção leste. E assim os dois se separaram. Abrão ficou na terra de Canaã, e Ló foi morar nas cidades do vale. Ló foi acampando até chegar a Sodoma, onde vivia uma gente má, que cometia pecados horríveis contra o Senhor

Promessa de Deus a Abrão

Depois que Ló foi embora, o Senhor
 Deus disse a Abrão:
— De onde você está, olhe bem para o norte e para o sul, para o leste e para o oeste. Eu vou dar a você e aos seus descendentes, para sempre, toda a terra que você está vendo. Farei com que os seus descendentes sejam tantos como o pó da terra. Assim como ninguém pode contar os grãozinhos de pó, assim também não será possível contar os seus descendentes. Agora vá e ande por esta terra, de norte a sul e de leste a oeste, pois eu a darei a você.

Assim, Abrão desarmou o seu acampamento e foi morar perto das árvores sagradas de Manre, na cidade de Hebrom. E ali Abrão construiu um altar para Deus, o Senhor.
Abrão liberta Ló

Nesse tempo Anrafel era rei de Sinar, Arioque era rei de Elasar, Quedorlaomer era rei de Elão, e Tidal era rei de Goim. Esses quatro fizeram guerra contra os seguintes reis: Bera, de Sodoma; Birsa, de Gomorra; Sinabe, de Admá; Semeber, de Zeboim; e contra o rei de Bela, cidade que também se chamava Zoar. Esses cinco reis juntaram os seus exércitos no vale de Sidim, onde fica o mar Morto. O rei Quedorlaomer os havia dominado por doze anos, mas no décimo terceiro ano eles se revoltaram contra ele. No décimo quarto ano Quedorlaomer e os seus aliados derrotaram os refains em Asterote-Carnaim, os zuzins em Hã, os emins em Savé-Quiriataim e os horeus nas montanhas de Seir, perseguindo-os até El-Parã, onde começa o deserto. Depois voltaram até Cades, que naquele tempo se chamava En-Mispate. Eles arrasaram a terra dos amalequitas e derrotaram os amorreus que viviam em Hazazão-Tamar. Então os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Bela saíram com os seus exércitos para o vale de Sidim a fim de lutar contra os reis de Elão, de Goim, de Sinar e de Elasar. Eram quatro reis contra cinco. Acontece que o vale de Sidim era cheio de buracos em que havia piche; e, quando tentaram fugir da batalha, os reis de Sodoma e de Gomorra caíram nesses buracos. Mas os outros reis fugiram para as montanhas. Os quatro reis pegaram todo o mantimento e os objetos de valor que havia em Sodoma e em Gomorra e foram embora. Ló, o sobrinho de Abrão, vivia em Sodoma e por isso também foi levado como prisioneiro. E levaram também tudo o que era dele.
Mas um homem escapou e foi contar tudo a Abrão, o hebreu, que morava perto das árvores sagradas que pertenciam a Manre, o amorreu. Manre e os seus irmãos Escol e Aner eram aliados de Abrão. Quando Abrão ficou sabendo que o seu sobrinho tinha sido levado como prisioneiro, reuniu os seus homens treinados para a guerra, todos eles nascidos na sua casa. Eram trezentos e dezoito ao todo. Abrão foi com eles, perseguindo os quatro reis até a cidade de Dã. Ali Abrão dividiu os seus homens em dois grupos, atacou os inimigos de noite e os derrotou. Ele continuou a persegui-los até Hoba, que fica ao norte da cidade de Damasco, e trouxe de volta tudo o que os inimigos haviam levado. Abrão trouxe também o seu sobrinho Ló, e tudo o que era dele, e também as suas mulheres, e o resto da sua gente.

Melquisedeque abençoa Abrão

Depois de haver derrotado Quedorlaomer e os outros reis, Abrão estava voltando para casa quando o rei de Sodoma foi encontrar-se com ele no vale de Savé, também chamado de vale do Rei. 
E Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho. Melquisedeque abençoou Abrão, dizendo:

“Abrão seja abençoadopelo Deus Altíssimo,que criou o céu e a terra!Seja louvado o Deus Altíssimo,que entregou os inimigos de vocênas suas mãos!”


Aí Abrão deu a Melquisedeque a décima parte de tudo o que havia trazido de volta.
Depois o rei de Sodoma disse a Abrão:
— Fique com as coisas e me devolva somente as pessoas.
Mas Abrão respondeu:
— Eu levanto a mão diante do Senhor, o Deus Altíssimo, criador do céu e da terra, e juro que não ficarei com nada do que é seu, nem um fio de linha ou uma tira de sandália. Assim você nunca poderá dizer: “Eu fiz com que Abrão ficasse rico.” Não quero nada para mim, a não ser a comida que os meus empregados comeram. Mas os meus aliados Aner, Escol e Manre podem ficar com a parte deles.
Deus faz uma aliança com Abrão

Depois disso Abrão teve uma visão, e nela o Senhor lhe disse:
— Abrão, não tenha medo. Eu o protegerei de todo perigo e lhe darei uma grande recompensa.
Abrão respondeu:
— Ó Senhor, meu Deus! De que vale a tua recompensa se eu continuo sem filhos? Eliézer, de Damasco, é quem vai herdar tudo o que tenho. Tu não me deste filhos, e por isso um dos meus empregados, nascido na minha casa, será o meu herdeiro.
Então o Senhor falou de novo e disse:
— O seu próprio filho será o seu herdeiro, e não o seu empregado Eliézer.
Aí o Senhor levou Abrão para fora e disse:
— Olhe para o céu e conte as estrelas se puder. Pois bem! Será esse o número dos seus descendentes.
Abrão creu em Deus, o Senhor, e por isso o Senhor o aceitou. O Senhor disse também:
— Eu sou Deus, o Senhor; eu o tirei da Babilônia, da cidade de Ur, a fim de lhe dar esta terra para ser sua propriedade.
— Ó Senhor, meu Deus! — disse Abrão. — Como posso ter certeza de que esta terra será minha?
O Senhor respondeu:
— Traga para mim uma vaca, uma cabra e uma ovelha, todas de três anos, e também uma rolinha e um pombo.
Abrão levou esses animais para o Senhor, cortou-os pelo meio e colocou as metades uma em frente à outra, em duas fileiras; porém as aves ele não cortou. Então os urubus começaram a descer sobre os animais mortos, mas Abrão os enxotava. Quando começou a anoitecer, Abrão caiu num sono profundo. De repente, ficou com medo, e o pavor tomou conta dele. Então o Senhor disse:
— Fique sabendo, com certeza, que os seus descendentes viverão num país estrangeiro; ali serão escravos e serão maltratados durante quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação que os escravizar. E os seus descendentes, Abrão, sairão livres, levando muitas riquezas. Você terá uma velhice abençoada, morrerá em paz, será sepultado e irá se reunir com os seus antepassados no mundo dos mortos. Depois de quatro gerações, os seus descendentes voltarão para cá; pois eu não expulsarei os amorreus até que eles se tornem tão maus, que mereçam ser castigados.
A noite caiu, e veio a escuridão. De repente, apareceu um braseiro, que soltava fumaça, e uma tocha de fogo. E o braseiro e a tocha passaram pelo meio dos animais partidos. Nessa mesma ocasião o Senhor Deus fez uma aliança com Abrão. Ele disse:
— Prometo dar aos seus descendentes esta terra, desde a fronteira com o Egito até o rio Eufrates, incluindo as terras dos queneus, dos quenezeus, dos cadmoneus, dos heteus, dos perizeus, dos refains, dos amorreus, dos cananeus, dos girgaseus e dos jebuseus.
Agar e Ismael

Sarai, a mulher de Abrão, não lhe tinha dado filhos. Ela possuía uma escrava egípcia, que se chamava Agar. Um dia Sarai disse a Abrão:
— Já que o Senhor Deus não me deixa ter filhos, tenha relações com a minha escrava; talvez assim, por meio dela, eu possa ter filhos.
Abrão concordou com o plano de Sarai, e assim ela lhe deu Agar para ser sua concubina. Isso aconteceu quando já fazia dez anos que Abrão estava morando em Canaã. Abrão teve relações com Agar, e ela ficou grávida. Quando descobriu que estava grávida, Agar começou a olhar com desprezo para Sarai, a sua dona. Aí Sarai disse a Abrão:
— Por sua culpa Agar está me desprezando. Eu mesma a entreguei nos seus braços; e, agora que sabe que está grávida, ela fica me tratando com desprezo. Que o Senhor Deus julgue quem é culpado, se é você ou se sou eu!
Abrão respondeu:
— Está bem. Agar é sua escrava, você manda nela. Faça com ela o que quiser.
Aí Sarai começou a maltratá-la tanto, que ela fugiu. Mas o Anjo do Senhor a encontrou no deserto, perto de uma fonte que fica no caminho de Sur, e perguntou:
— Agar, escrava de Sarai, de onde você vem e para onde está indo?
— Estou fugindo da minha dona — respondeu ela.
Então o Anjo do Senhor deu a seguinte ordem:
— Volte para a sua dona e seja obediente a ela em tudo.
E o Anjo do Senhor disse também:

“Eu farei com que o númerodos seus descendentes seja grande;eles serão tantos, que ninguémpoderá contá-los.Você está grávida, e terá um filho,e porá nele o nome de Ismael,pois o Senhor Deus ouviu o seu grito de aflição.Esse filho serácomo um jumento selvagem;ele lutará contra todos,e todos lutarão contra ele.E ele viverá longe de todosos seus parentes.” 
Então Agar deu ao Senhor este nome: “O Deus que Vê.” Isso porque ele havia falado com ela, e ela havia perguntado a si mesma: “Será verdade que eu vi Aquele que Me Vê?” É por isso que esse poço, que fica entre Cades e Berede, é chamado de “Poço Daquele que Vive e Me Vê”.

Agar deu um filho a Abrão, e ele pôs no menino o nome de Ismael. Abrão tinha oitenta e seis anos quando Ismael nasceu.

A aliança e a circuncisão

Quando Abrão tinha noventa e nove anos, o Senhor Deus apareceu a ele e disse:
— Eu sou o Deus Todo-Poderoso. Viva uma vida de comunhão comigo e seja obediente a mim em tudo. Eu farei a minha aliança com você e lhe darei muitos descendentes.
Então Abrão se ajoelhou, encostou o rosto no chão, e Deus lhe disse:
— Eu faço com você esta aliança: prometo que você será o pai de muitas nações. Daqui em diante o seu nome será Abraão e não Abrão, pois eu vou fazer com que você seja pai de muitas nações. Farei com que os seus descendentes sejam muito numerosos, e alguns deles serão reis. A aliança que estou fazendo para sempre com você e com os seus descendentes é a seguinte: eu serei para sempre o Deus de você e o Deus dos seus descendentes. Darei a você e a eles a terra onde você está morando como estrangeiro. Toda a terra de Canaã será para sempre dos seus descendentes, e eu serei o Deus deles.
Deus continuou:
— Você, Abraão, será fiel à minha aliança, você e os seus descendentes, para sempre. Pela aliança que estou fazendo com você e com os seus descendentes, todos os homens entre vocês deverão ser circuncidados. A circuncisão servirá como sinal da aliança que há entre mim e vocês. De hoje em diante vocês circuncidarão todos os meninos oito dias depois de nascidos, e também os escravos que nascerem nas casas de vocês, e os que forem comprados de estrangeiros. Tanto uns como outros deverão ser circuncidados, sem falta. Esse será um sinal que vai ficar no seu corpo para mostrar que a minha aliança com vocês é para sempre. Quem não for circuncidado não poderá morar no meio de vocês, pois não respeitou a minha aliança.
Depois Deus disse a Abraão:
— De hoje em diante não chame mais a sua mulher de Sarai, mas de Sara. Eu a abençoarei e darei a você um filho, que nascerá dela. Sim, eu a abençoarei, e ela será mãe de nações; e haverá reis entre os seus descendentes.
Abraão se ajoelhou, encostou o rosto no chão e começou a rir ao pensar assim: “Por acaso um homem de cem anos pode ser pai? E será que Sara, com os seus noventa anos, poderá ter um filho?” Então Abraão disse a Deus o seguinte:
— Quem dera que Ismael vivesse abençoado por ti!
Mas Deus respondeu:
— O que eu disse foi que Sara, a sua mulher, lhe dará um filho. E você o chamará de Isaque. Eu manterei a minha aliança com ele e com os seus descendentes, para sempre. Também ouvi o seu pedido a respeito de Ismael; e eu o abençoarei e lhe darei muitos filhos e muitos descendentes. Ele será pai de doze príncipes, e eu farei com que os descendentes dele sejam uma grande nação. Mas a minha aliança eu manterei com Isaque, o seu filho, que Sara dará à luz nesta mesma época, no ano que vem.

Quando acabou de falar com Abraão, Deus subiu e o deixou. Naquele mesmo dia Abraão fez como Deus havia mandado. Ele circuncidou o seu filho Ismael e todos os outros homens da sua casa, incluindo os escravos nascidos na sua casa e os que tinham sido comprados de estrangeiros. Abraão tinha noventa e nove anos quando foi circuncidado, e o seu filho Ismael tinha treze. Os dois foram circuncidados no mesmo dia. E foram circuncidados também todos os escravos de Abraão, tanto os nascidos na sua casa como os que tinham sido comprados de estrangeiros.

Deus promete um filho a Abraão

O Senhor Deus apareceu a Abraão no bosque sagrado de Manre. Era a hora mais quente do dia, e Abraão estava sentado na entrada da sua barraca. Ele olhou para cima e viu três homens, de pé na sua frente. Quando os viu, correu ao encontro deles. Ajoelhou-se, encostou o rosto no chão e disse:
— Senhores, se eu mereço a sua atenção, não passem pela minha humilde casa sem me fazerem uma visita. Vou mandar trazer água para lavarem os pés, e depois os senhores descansarão aqui debaixo da árvore. Também vou trazer um pouco de comida, e assim terão forças para continuar a viagem. Os senhores me honraram com a sua visita; portanto, deixem que eu os sirva.
Eles responderam:
— Está bem, nós aceitamos.
Abraão correu para dentro da barraca e disse a Sara:
— Depressa! Pegue uns dez quilos de farinha e faça pão.
Em seguida ele correu até onde estava o gado, escolheu um bom bezerro novo e o entregou a um dos empregados, que o preparou para ser comido. Abraão pegou coalhada, leite e a carne preparada e pôs tudo diante dos visitantes. Ali, debaixo da árvore, ele mesmo serviu a comida e ficou olhando. Então eles perguntaram:
— Onde está Sara, a sua mulher?
— Está na barraca — respondeu Abraão.
Um deles disse:
— No ano que vem eu virei visitá-lo outra vez. E nessa época Sara, a sua mulher, terá um filho.
Sara estava atrás dele, na entrada da barraca, escutando a conversa. Abraão e Sara eram muito velhos, e Sara já havia passado da idade de ter filhos. Por isso riu por dentro e pensou assim:
— Como poderei ter prazer sexual agora que eu e o meu senhor estamos velhos?
Então o Senhor perguntou a Abraão:
— Por que Sara riu? Por que disse que está velha demais para ter um filho? Será que para o Senhor há alguma coisa impossível? Pois, como eu disse, no ano que vem virei visitá-lo outra vez. E nessa época Sara terá um filho.
Ao escutar isso, Sara ficou com medo e quis negar.
— Eu não estava rindo — disse ela.
Mas o Senhor respondeu:
— Não é verdade; você riu mesmo.

Abraão pede em favor de Sodoma

Depois os visitantes se levantaram e foram para um lugar de onde podiam ver a cidade de Sodoma. E Abraão os acompanhou para lhes mostrar o caminho. 
Aí o Senhor Deus disse a si mesmo: “Não vou esconder de Abraão o que pretendo fazer. Os seus descendentes se tornarão uma nação grande e poderosa, e por meio dele eu abençoarei todas as nações da terra. Eu o escolhi para que ele mande que os seus filhos e os seus descendentes obedeçam aos meus ensinamentos e façam o que é correto e justo. Se eles obedecerem, farei por Abraão tudo o que prometi.”
Aí o Senhor disse a Abraão:
— Há terríveis acusações contra Sodoma e Gomorra, e o pecado dos seus moradores é muito grave. Preciso descer até lá para ver se as acusações que tenho ouvido são verdadeiras ou não.
Então dois dos visitantes saíram, indo na direção de Sodoma; porém Abraão ficou ali com Deus, o Senhor. Abraão chegou um pouco mais perto e perguntou:
— Será que vais destruir os bons junto com os maus? Talvez haja cinquenta pessoas direitas na cidade. Nesse caso, vais destruir a cidade? Será que não a perdoarias por amor aos cinquenta bons? Não é possível que mates os bons junto com os maus, como se todos tivessem cometido os mesmos pecados. Não faças isso! Tu és o juiz do mundo inteiro e por isso agirás com justiça.
O Senhor Deus respondeu:
— Se eu achar cinquenta pessoas direitas em Sodoma, perdoarei a cidade inteira por causa delas.
Abraão voltou a dizer:
— Perdoa o meu atrevimento de continuar falando contigo, pois tu és o Senhor, e eu sou um simples mortal. Pode acontecer que haja apenas quarenta e cinco pessoas direitas. Destruirás a cidade por causa dessa diferença de cinco?
Deus respondeu:
— Se eu achar quarenta e cinco, não destruirei a cidade.
Abraão continuou:
— E se houver somente quarenta bons?
— Por amor a esses quarenta, não destruirei a cidade — Deus respondeu.
Abraão disse:
— Não fiques zangado comigo, Senhor, por eu continuar a falar. E se houver só trinta?
Deus respondeu:
— Se houver trinta, eu perdoarei a cidade.
Abraão tornou a insistir:
— Estou sendo atrevido, mas me perdoa, Senhor. E se houver somente vinte?
— Por amor a esses vinte, não destruirei a cidade — Deus respondeu.
Finalmente Abraão disse:
— Não fiques zangado, Senhor, pois esta é a última vez que vou falar. E se houver só dez?
— Por causa desses dez, não destruirei a cidade — Deus respondeu.
Quando o Senhor Deus acabou de falar com Abraão, ele foi embora, e Abraão voltou para casa.
Sodoma, cidade de pecado

Estava anoitecendo quando os dois anjos chegaram a Sodoma.
Ló estava sentado perto do portão de entrada da cidade. Quando viu os anjos, levantou-se e foi recebê-los. Ajoelhou-se, encostou o rosto no chão e disse:
— Senhores, estou aqui para servi-los; por favor, aceitem o meu convite e venham se hospedar na minha casa. Os senhores podem lavar os pés e passar a noite ali. Depois se levantarão bem cedo e continuarão a sua viagem.
Eles disseram:
— Não; nós vamos passar a noite na praça.
Mas Ló insistiu tanto, que eles aceitaram e foram com ele para a sua casa. Ló mandou preparar um bom jantar e assar pães sem fermento. E os visitantes jantaram. Mas, antes que eles fossem dormir, todos os homens de Sodoma, tanto os moços como os velhos, cercaram a casa. Eles chamaram Ló e perguntaram:
— Onde estão os homens que entraram na sua casa esta noite? Traga-os aqui fora para nós, pois queremos ter relações com eles.
Ló saiu para falar com os homens. Ele fechou bem a porta e disse:
— Por favor, meus amigos, não cometam esse crime! Prestem atenção! Tenho duas filhas que ainda são virgens. Vou trazê-las aqui fora para vocês. Façam com elas o que quiserem. Porém não façam nada com esses homens, pois são meus hóspedes, e eu tenho o dever de protegê-los.
Mas eles responderam:
— Saia da nossa frente!
E diziam uns aos outros:
— Esse homem é estrangeiro e quer mandar em nós!
Depois, virando-se para Ló, disseram:
— Pois agora vamos fazer com você pior ainda do que íamos fazer com os seus hóspedes.
Os homens de Sodoma se atiraram contra Ló e chegaram perto da porta para arrombá-la. Mas os visitantes pegaram Ló, e o puxaram para dentro da casa, e fecharam a porta. Em seguida eles fizeram que os homens, tanto os moços como os velhos, que estavam do lado de fora, ficassem cegos; e assim não conseguiram encontrar a porta.
Ló sai de Sodoma

Então os visitantes disseram a Ló:
— Tem mais gente sua aqui? Pegue os seus filhos, as suas filhas, os seus genros e outros parentes que você tiver na cidade e tire todos daqui, pois nós vamos destruir este lugar. O Senhor Deus tem ouvido as terríveis acusações que há contra essa gente e por isso nos mandou para destruirmos Sodoma.
Então Ló saiu e foi falar com os homens que iam casar com as suas filhas. Ele disse:
— Arrumem-se depressa e saiam daqui porque o Senhor vai destruir a cidade!
Mas eles pensaram que Ló estivesse brincando.
De madrugada os anjos insistiram com Ló, dizendo:
— Arrume-se depressa, pegue a sua mulher e as suas duas filhas e saia daqui, para que vocês não morram quando a cidade for destruída.
E, como ele estava demorando, os anjos pegaram pela mão Ló, a sua mulher e as suas filhas e os levaram para fora da cidade, pois o Senhor teve compaixão de Ló. Então um dos anjos disse a Ló:
— Agora corra e salve a sua vida! Não olhe para trás, nem pare neste vale. Fuja para a montanha; se não, você vai morrer.
Mas Ló respondeu:
— Senhor, não me obrigue a fazer isso, por favor! O senhor me fez um grande favor e teve pena de mim, salvando a minha vida. Mas a montanha fica muito longe daqui, e a destruição vai me alcançar e acabar comigo antes que eu chegue lá. Está vendo aquela cidadezinha ali? Ela fica perto. Deixe que eu fuja para lá a fim de salvar a minha vida. Veja que é uma cidade bem pequena.
Então o anjo disse:
— Está bem; concordo. Eu não destruirei aquela cidade. Agora vá depressa, pois eu não poderei fazer nada enquanto você não chegar lá.
Ló tinha dito que a cidade era bem pequena, e por isso ela recebeu o nome de Zoar.
A destruição de Sodoma e de Gomorra

Ló chegou a Zoar depois que o sol já havia saído. 
De repente, lá do céu, o Senhor Deus fez chover fogo e enxofre sobre Sodoma e Gomorra. Ele destruiu essas duas cidades, e também todo o vale e os seus moradores, e acabou com todas as plantas e árvores daquela região. E aconteceu que a mulher de Ló olhou para trás e virou uma estátua de sal.
No dia seguinte Abraão se levantou de madrugada e foi até o lugar onde havia falado com Deus, o Senhor. Abraão olhou na direção de Sodoma, de Gomorra e de todo o vale e viu que da terra subia fumaça, como se fosse a fumaça de uma grande fornalha. Foi assim que Deus destruiu as cidades do vale. Mas ele pensou em Abraão e fez com que Ló escapasse da destruição das cidades onde havia morado.
A origem dos moabitas e dos amonitas

Ló teve medo de ficar morando em Zoar e por isso foi para as montanhas, junto com as duas filhas. Ali os três viviam numa caverna. 
Certo dia a filha mais velha disse à mais nova:
— O nosso pai já está ficando velho, e não há nenhum outro homem nesta região. Assim não podemos casar e ter filhos, como é costume em toda parte. Venha cá, vamos dar vinho a papai até que fique bêbado. Então nós nos deitaremos com ele e assim teremos filhos dele.
Naquela mesma noite elas deram vinho ao pai, e a filha mais velha teve relações com ele. Mas ele estava tão bêbado, que não percebeu nada. No dia seguinte a filha mais velha disse à irmã:
— Eu dormi ontem à noite com papai. Vamos embebedá-lo de novo hoje à noite, e você vai dormir com ele. Assim, nós duas teremos filhos com ele e conservaremos a sua descendência.
Nessa noite tornaram a dar vinho ao pai, e a filha mais nova teve relações com ele. De novo ele estava tão bêbado, que não percebeu nada. Assim, as duas filhas de Ló ficaram grávidas do próprio pai. A mais velha teve um filho, a quem deu o nome de Moabe. Ele foi o pai dos moabitas de hoje. A mais nova também teve um filho e pôs nele o nome de Ben-Ami. Ele foi o pai dos amonitas de hoje.

Abraão e Abimeleque

Abraão saiu de Manre, foi para o sul do país de Canaã e ficou morando entre Cades e Sur. Mais tarde, quando estava morando em Gerar, Abraão dizia que Sara era sua irmã. Então Abimeleque, rei de Gerar, mandou que trouxessem Sara para o seu palácio. Mas de noite, num sonho, Deus apareceu a Abimeleque e disse:
— Você vai ser castigado com a morte porque a mulher que mandou buscar é casada.
Abimeleque ainda não havia tocado em Sara e por isso disse:
— Senhor, eu estou inocente! Será que vais destruir a mim e ao meu povo? O próprio Abraão disse que Sara é irmã dele, e ela disse a mesma coisa. O que eu fiz foi de boa fé e não sou culpado.
No sonho Deus respondeu:
— Eu sei que você fez tudo de boa fé. Portanto, para que você não pecasse contra mim, eu não deixei que você tocasse nela. Agora devolva a mulher ao marido dela. Ele é profeta e orará para que você não morra. Mas, se a mulher não for devolvida, eu estou avisando que certamente você morrerá, você e todos os seus.
No dia seguinte Abimeleque levantou-se bem cedo, chamou todos os seus servidores e lhes contou o que havia acontecido. E eles ficaram com muito medo. Em seguida Abimeleque chamou Abraão e disse:
— Veja o que você fez! Que mal eu lhe causei para que você fizesse cair sobre mim e sobre o meu país a culpa de um pecado tão grande? Isso não é coisa que se faça. O que é que você estava pensando quando fez isso?
Abraão respondeu:
— Eu pensei que neste lugar ninguém respeitasse a Deus e que me matariam para ficar com a minha mulher. Além disso Sara é, de fato, minha irmã, mas só por parte de pai. Sendo assim, eu pude casar com ela. Quando Deus me tirou da casa do meu pai e me fez andar por terras estrangeiras, eu disse a Sara: “Em todo lugar aonde formos, faça-me o favor de dizer que sou seu irmão.”
Então Abimeleque devolveu Sara a Abraão. Além disso lhe deu ovelhas, bois, escravos e escravas. E disse:
— Olhe, Abraão, aí estão as minhas terras. More onde quiser.
E Abimeleque disse a Sara o seguinte:
— Estou dando ao seu irmão onze quilos e meio de prata para que os que estão com você saibam que você está inocente. Assim, todos saberão que você não fez nada de errado.
Por causa do que tinha acontecido com Sara, a mulher de Abraão, o Senhor Deus havia feito com que nenhuma das mulheres do palácio de Abimeleque pudesse ter filhos. Aí Abraão orou em favor de Abimeleque, e Deus o curou. E também curou a mulher dele e as suas escravas, e assim puderam ter filhos novamente.
O nascimento de Isaque

De acordo com a sua promessa, o Senhor Deus abençoou Sara. Ela ficou grávida e, na velhice de Abraão, lhe deu um filho. O menino nasceu no tempo que Deus havia marcado,e Abraão pôs nele o nome de Isaque. Quando Isaque tinha oito dias, Abraão o circuncidou, como Deus havia mandado. Quando Isaque nasceu, Abraão tinha cem anos. Então Sara disse:
— Deus me deu motivo para rir. E todos os que ouvirem essa história vão rir comigo.
E disse também:
— Quem diria a Abraão que Sara daria de mamar? No entanto, apesar de ele estar velho, eu lhe dei um filho.
O menino cresceu e foi desmamado. E, no dia em que o menino foi desmamado, Abraão deu uma grande festa.

Agar e Ismael são mandados embora

Certo dia Ismael, o filho de Abraão e da egípcia Agar, estava brincando com Isaque, o filho de Sara. Quando Sara viu isso, disse a Abraão:
— Mande embora essa escrava e o filho dela, pois o filho dessa escrava não será herdeiro junto com Isaque, o meu filho.
Abraão ficou muito preocupado com isso, pois Ismael também era seu filho. Mas Deus disse:
— Abraão, não se preocupe com o menino, nem com a sua escrava. Faça tudo o que Sara disser, pois você terá descendentes por meio de Isaque.  O filho da escrava é seu filho também, e por isso farei com que os descendentes dele sejam uma grande nação.
No dia seguinte Abraão se levantou de madrugada e deu para Agar comida e um odre cheio de água. Pôs o menino nos ombros dela e mandou que fosse embora. E Agar foi embora, andando sem direção pelo deserto de Berseba. Quando acabou a água do odre, ela deixou o menino debaixo de uma arvorezinha e foi sentar-se a uns cem metros dali. Ela estava pensando: “Não suporto ver o meu filho morrer.” Ela ficou ali sentada, e o menino começou a chorar.
Deus ouviu o choro do menino; e, lá do céu, o Anjo de Deus chamou Agar e disse:
— Por que é que você está preocupada, Agar? Não tenha medo, pois Deus ouviu o choro do menino aí onde ele está. Vamos! Levante o menino e pegue-o pela mão. Eu farei dos seus descendentes uma grande nação.
Então Deus abriu os olhos de Agar, e ela viu um poço. Ela foi, encheu o odre de água e deu para Ismael beber.
Protegido por Deus, o menino cresceu. Ismael ficou morando no deserto de Parã e se tornou um bom atirador de flechas. E a sua mãe arranjou uma mulher egípcia para ele.

Abraão e Abimeleque

Por esse tempo Abimeleque foi conversar com Abraão. Ficol, comandante do seu exército, foi com ele. Abimeleque disse a Abraão:
— Deus está com você em tudo o que você faz. Portanto, aqui neste lugar, jure por Deus que não vai enganar nem a mim, nem aos meus filhos, nem aos meus descendentes. Eu tenho sido sincero com você; por isso prometa que será sincero comigo e fiel a esta terra em que está morando.
— Eu juro — disse Abraão.
Abraão fez uma reclamação a Abimeleque por causa de um poço que os empregados de Abimeleque haviam tomado à força.
Abimeleque explicou:
— Não sei quem fez isso. Você nunca me falou nada, e esta é a primeira vez que estou ouvindo falar desse assunto.
Aí Abraão pegou algumas ovelhas e alguns bois e deu a Abimeleque, e os dois fizeram um trato. Abraão separou sete ovelhinhas do seu rebanho, e Abimeleque perguntou:
— Por que você separou estas sete ovelhinhas?
Abraão respondeu:
— Elas são um presente para você. Ao receber estas sete ovelhinhas, você estará concordando que fui eu quem cavou este poço.
Por isso aquele lugar ficou sendo chamado de Berseba, pois ali os dois fizeram um juramento.
Depois de fazerem esse trato em Berseba, Abimeleque e Ficol voltaram para a Filisteia. Abraão plantou uma árvore em Berseba e ali adorou o Senhor, o Deus Eterno. E Abraão ficou morando muito tempo na Filisteia.

Deus põe Abraão à prova

Algum tempo depois Deus pôs Abraão à prova. Deus o chamou pelo nome, e ele respondeu:
— Estou aqui.
Então Deus disse:
— Pegue agora Isaque, o seu filho, o seu único filho, a quem você tanto ama, e vá até a terra de Moriá. Ali, na montanha que eu lhe mostrar, queime o seu filho como sacrifício.
No dia seguinte Abraão se levantou de madrugada, arreou o seu jumento, cortou lenha para o sacrifício e saiu para o lugar que Deus havia indicado. Isaque e dois empregados foram junto com ele. No terceiro dia, Abraão viu o lugar, de longe. 5Então disse aos empregados:
— Fiquem aqui com o jumento. Eu e o menino vamos ali adiante para adorar a Deus. Daqui a pouco nós voltamos.
Abraão pegou a lenha para o sacrifício e pôs nos ombros de Isaque. Pegou uma faca e fogo, e os dois foram andando juntos. Daí a pouco o menino disse:
— Pai!
Abraão respondeu:
— Que foi, meu filho?
Isaque perguntou:
— Nós temos a lenha e o fogo, mas onde está o carneirinho para o sacrifício?
Abraão respondeu:
— Deus dará o que for preciso; ele vai arranjar um carneirinho para o sacrifício, meu filho.
E continuaram a caminhar juntos. Quando chegaram ao lugar que Deus havia indicado, Abraão fez um altar e arrumou a lenha em cima dele. Depois amarrou Isaque e o colocou sobre o altar, em cima da lenha. Em seguida pegou a faca para matá-lo. Mas nesse instante, lá do céu, o Anjo do Senhor o chamou, dizendo:
— Abraão! Abraão!
— Estou aqui — respondeu ele.
O Anjo disse:
— Não machuque o menino e não lhe faça nenhum mal. Agora sei que você teme a Deus, pois não me negou o seu filho, o seu único filho.
Abraão olhou em volta e viu um carneiro preso pelos chifres, no meio de uma moita. Abraão foi, pegou o carneiro e o ofereceu como sacrifício em lugar do seu filho. Abraão pôs naquele lugar o nome de “O Senhor Deus dará o que for preciso.” É por isso que até hoje o povo diz: “Na sua montanha o Senhor Deus dá o que é preciso.”
Mais uma vez o Anjo do Senhor, lá do céu, chamou Abraão e disse:
— Porque você fez isso e não me negou o seu filho, o seu único filho, eu juro pelo meu próprio nome — diz Deus, o Senhor — que abençoarei você ricamente. Farei com que os seus descendentes sejam tão numerosos como as estrelas do céu ou os grãos de areia da praia do mar; e eles vencerão os inimigos. Por meio dos seus descendentes eu abençoarei todas as nações do mundo, pois você fez o que eu mandei.
Abraão voltou para o lugar onde estavam os seus empregados, e foram todos juntos para Berseba, onde Abraão ficou morando.
Os descendentes de Naor

Algum tempo depois Abraão recebeu a notícia de que Naor, o seu irmão, tinha oito filhos, nascidos de Milca, a sua mulher. O primeiro que nasceu foi Uz; depois vieram os seus irmãos Buz e Quemuel, que foi o pai de Arã; depois nasceram Quesede, Hazo, Pildas, Jidlafe e Betuel. Este Betuel foi o pai de Rebeca. São esses os oito filhos que Milca deu a Naor, o irmão de Abraão. Reúma, a concubina de Naor, lhe deu os seguintes filhos: Teba, Gaã, Taás e Maacá.

A morte e o sepultamento de Sara

Sara viveu cento e vinte e sete anos. Ela morreu na cidade de Hebrom, também chamada Quiriate-Arba, na terra de Canaã. E Abraão chorou a sua morte. Depois saiu do lugar onde estava o corpo e foi falar com os heteus. Ele disse:
— Eu sou um estrangeiro que mora no meio de vocês. Portanto, me vendam um pedaço de terra para que eu possa sepultar a minha mulher.
Os heteus responderam:
— Escute, senhor! O senhor é para nós um chefe poderoso. Sepulte a sua mulher na melhor sepultura que tivermos. Nenhum de nós se negará a dar-lhe a sua sepultura.
Aí Abraão se levantou, se curvou diante dos heteus e disse:
— Se vocês querem que eu sepulte a minha mulher aqui, por favor, peçam a Efrom, filho de Zoar, que me venda a caverna de Macpela, que fica na divisa das suas terras. Eu pagarei o preço total e assim serei dono de uma sepultura neste lugar.
Efrom estava assentado ali entre eles, no lugar de reunião, perto do portão da cidade. Ele falou em voz alta, para que todos pudessem escutar:
— De jeito nenhum, meu senhor. Escute! Eu lhe dou o terreno de presente e também a caverna que fica nele. A minha gente é testemunha de que eu estou lhe dando o terreno de presente, para que o senhor possa sepultar a sua mulher.
Mas Abraão tornou a se curvar diante dos heteus e disse a Efrom, de modo que todos pudessem ouvir:
— Escute, por favor! Eu quero comprar o terreno. Diga qual é o preço, que eu pago. E depois sepultarei a minha mulher ali.
Efrom respondeu:
— Escute, meu senhor! O terreno vale quatrocentas barras de prata. O que é isso entre nós dois? Vá e sepulte ali a sua mulher.
Abraão concordou e pesou a quantidade de prata que Efrom havia sugerido diante de todos, isto é, quatro quilos e meio, de acordo com o peso comum usado pelos negociantes. Assim, Abraão se tornou dono da propriedade de Efrom em Macpela, a leste de Manre, isto é, do terreno, da caverna e de todas as árvores, até a divisa da propriedade. Todos os heteus que estavam naquela reunião foram testemunhas dessa compra.
Depois disso Abraão sepultou Sara, a sua mulher, na caverna do terreno de Macpela, a leste de Manre, lugar também conhecido pelo nome de Hebrom e que fica na terra de Canaã. Assim, o terreno que pertencia aos heteus e também a caverna que havia ali passaram a ser propriedade de Abraão, para servir como lugar de sepultamento.
Uma esposa para Isaque

Abraão já estava bem velho, e o Senhor Deus o havia abençoado em tudo. Um dia ele chamou o seu empregado mais antigo, que tomava conta de tudo o que ele tinha, e disse:
— Ponha a mão por baixo da minha coxa e faça um juramento. Jure pelo Senhor, o Deus do céu e da terra, que você não deixará que o meu filho Isaque case com nenhuma mulher deste país de Canaã, onde estou morando. Vá até a minha terra e escolha no meio dos meus parentes uma esposa para Isaque.
O empregado perguntou:
— E o que é que eu faço se a moça não quiser vir comigo? Devo levar o seu filho de volta para a terra de onde o senhor veio?
Abraão respondeu:
— Não! Não faça o meu filho voltar para lá, de jeito nenhum! O Senhor, o Deus do céu, me tirou da casa do meu pai e da terra dos meus parentes e jurou que daria esta terra aos meus descendentes. Ele vai enviar o seu Anjo para guiá-lo, e assim você conseguirá arranjar uma mulher para o meu filho. Se a moça não quiser vir, você ficará livre deste juramento. Porém não leve o meu filho de volta para lá, de jeito nenhum.
Então o empregado pôs a mão por baixo da coxa de Abraão e jurou que faria o que ele havia ordenado. Em seguida o empregado pegou dez camelos de Abraão e uma porção de presentes e foi até a cidade onde Naor havia morado, na Mesopotâmia. Quando o empregado chegou, fez os camelos se ajoelharem perto do poço, fora da cidade. Era de tardinha, a hora em que as mulheres vinham buscar água. Aí ele orou assim:
— Ó Senhor, Deus do meu patrão Abraão, faze com que tudo dê certo e sê bondoso para o meu patrão. Eu estou aqui perto do poço aonde as moças da cidade vêm para tirar água. Vou dizer a uma delas: “Por favor, abaixe o seu pote para que eu beba um pouco de água.” Se ela disser assim: “Beba, e eu vou dar água também para os seus camelos”, que seja essa a moça que escolheste para o teu servo Isaque. Se isso acontecer, ficarei sabendo que foste bondoso para o meu patrão.
Ele nem havia acabado a oração, quando Rebeca veio, carregando o seu pote no ombro. Ela era filha de Betuel, que era filho de Milca e de Naor, o irmão de Abraão. Rebeca era uma linda moça, ainda virgem; nenhum homem havia tocado nela. Ela desceu até o poço, encheu o seu pote e subiu. Então o empregado de Abraão foi correndo se encontrar com ela e disse:
— Por favor, deixe que eu beba um pouco da água do seu pote.
— O senhor pode beber — respondeu ela.
E rapidamente abaixou o pote e o segurou enquanto ele bebia. Depois de lhe dar de beber, a moça disse:
— Vou tirar água também para os seus camelos e lhes darei de beber o quanto quiserem.
Rapidamente ela despejou a água no bebedouro e correu várias vezes ao poço a fim de tirar água para todos os camelos. Enquanto isso o homem, sem dizer nada, ficou observando a moça para saber se o Senhor Deus havia ou não abençoado a sua viagem.
Quando os camelos acabaram de beber, o homem pegou uma argola de ouro, que pesava seis gramas, e colocou no nariz dela. E também lhe deu duas pulseiras de ouro, que pesavam mais de cem gramas. Em seguida perguntou:
— Por favor, diga quem é o seu pai. Será que na casa dele há lugar para os meus homens e eu passarmos a noite?
Ela respondeu:
— Eu sou filha de Betuel, filho de Milca e de Naor. Na nossa casa há lugar para dormir e também bastante palha e capim para os camelos.
Então o homem se ajoelhou e adorou a Deus, o Senhor. Ele disse:
— Bendito seja o Senhor, o Deus de Abraão, o meu patrão! Pois foi fiel e bondoso com ele, guiando-me diretamente até a casa dos seus parentes.
A moça foi correndo para a casa da sua mãe e contou o que havia acontecido. Rebeca tinha um irmão chamado Labão, o qual viu a argola no nariz da irmã e as pulseiras nos seus braços e a ouviu contar o que o homem tinha dito para ela. Labão saiu correndo e foi buscar o empregado de Abraão, que havia ficado de pé, ao lado dos camelos, ali perto do poço. Labão disse:
— Venha comigo, homem abençoado por Deus, o Senhor. Por que você está aí fora? Já preparei a casa e também o lugar para os camelos.
Então o homem entrou na casa. Labão tirou a carga dos camelos e lhes deu palha e capim. Depois trouxe água para que o empregado de Abraão e os seus companheiros lavassem os pés. Quando trouxeram a comida, o homem disse:
— Eu não vou comer enquanto não disser o que tenho para dizer.
— Fale — disse Labão.
Então ele disse o seguinte:
— Eu sou empregado de Abraão. O Senhor Deus abençoou muito o meu patrão, e ele ficou rico. O Senhor lhe deu rebanhos de ovelhas e cabras, gado, prata, ouro, escravos e escravas, camelos e jumentos. Sara, a sua mulher, mesmo depois de velha, deu um filho ao meu patrão, e o filho herdará tudo o que o pai tem. O meu patrão me fez jurar que eu faria o que ele ordenasse e me disse: “Não deixe que o meu filho case com nenhuma mulher deste país de Canaã, onde estou morando. Vá até o lugar onde mora a família do meu pai e no meio dos meus parentes escolha uma mulher para ele.” Então eu lhe perguntei: “E o que é que eu faço se a moça não quiser vir comigo?” Ele me respondeu: “Eu tenho obedecido fielmente a Deus, o Senhor. Ele enviará o seu Anjo para estar com você, e tudo dará certo. No meio da minha gente, na família do meu pai, você escolherá uma mulher para o meu filho. Se você falar com os meus parentes, e eles não quiserem dar a moça, então você ficará livre do juramento que me fez.”
 — E foi assim que hoje cheguei ao poço e disse a Deus o seguinte: “Ó Senhor, ó Deus de Abraão, o meu patrão, eu peço que aquilo que vou fazer dê certo. Eu estou aqui ao lado do poço. Quando uma moça vier tirar água, eu vou pedir que me dê de beber da água do seu pote. Se ela concordar e também se oferecer para tirar água para os meus camelos, que seja essa a que escolheste para ser mulher do filho do meu patrão.” Eu nem havia acabado de fazer essa oração em silêncio, quando Rebeca veio com um pote no ombro, desceu até o poço e tirou água. Aí eu disse: “Dê-me um pouco de água, por favor.” Ela abaixou depressa o seu pote e disse: “Pode beber, e vou dar de beber também aos seus camelos.” Então eu bebi, e ela deu água também aos camelos. Em seguida perguntei: “Quem é o seu pai?” Ela respondeu: “Eu sou filha de Betuel, filho de Milca e de Naor.” Então coloquei uma argola no nariz dela e duas pulseiras nos seus braços. Eu me ajoelhei e adorei a Deus. E louvei o Senhor, o Deus de Abraão, o meu patrão, que me guiou diretamente aos seus parentes a fim de que eu levasse a filha do irmão do meu patrão para o seu filho. Agora, digam se vocês vão ser bondosos e sinceros com o meu patrão; se não, digam também, para que eu resolva o que fazer.
Labão e Betuel responderam:
— Tudo isso vem de Deus, o Senhor, e por isso não podemos dizer nada, nem a favor nem contra. Aqui está Rebeca; leve-a com você. Que ela seja a mulher do filho do seu patrão, como o Senhor Deus já disse.
Quando o empregado de Abraão ouviu essas palavras, ajoelhou-se, encostou o rosto no chão e adorou a Deus, o Senhor. Em seguida pegou vários objetos de prata e de ouro e vestidos e os deu a Rebeca. E também deu presentes caros ao irmão e à mãe dela. Então ele e os seus companheiros comeram e beberam, e passaram a noite ali. No outro dia de manhã, quando se levantaram, o empregado disse:
— Deixem que eu volte para a casa do meu patrão.
Mas o irmão e a mãe de Rebeca disseram:
— É melhor que ela fique com a gente alguns dias, talvez uns dez, e depois poderá ir.
Mas o empregado respondeu:
— Não me façam ficar aqui. O Senhor Deus fez com que a minha viagem desse certo; deixem que eu volte para a casa do meu patrão.
Então eles disseram:
— Vamos chamar Rebeca para ver o que ela diz.
Eles chamaram a moça e lhe perguntaram:
— Você quer ir com este homem?
— Quero — respondeu ela.
Aí deixaram que Rebeca e a mulher que havia sido sua babá fossem com o empregado de Abraão e os seus companheiros. E abençoaram Rebeca, dizendo:

“Que você, nossa irmã,seja mãe de milhões!Que os seus descendentes conquistemas cidades dos seus inimigos!”

Então Rebeca e as suas empregadas se prepararam, montaram os camelos e seguiram o empregado de Abraão. E assim eles foram embora.

Isaque tinha vindo ao deserto onde ficava o “Poço Daquele que Vive e Me Vê”, pois morava no sul de Canaã. Ele havia saído à tardinha para dar um passeio pelo campo, quando viu que vinham vindo camelos. Rebeca também olhou e, quando viu Isaque, desceu do camelo 65e perguntou ao empregado:
— Quem é aquele homem que vem andando pelo campo na nossa direção?
— É o meu patrão — respondeu ele.
Aí ela pegou o véu e cobriu o rosto.
O empregado contou a Isaque tudo o que havia feito. Então Isaque levou Rebeca para a barraca onde Sara, a sua mãe, havia morado, e ela se tornou a sua mulher. Isaque amou Rebeca e assim foi consolado depois da morte da sua mãe.
  Outros descendentes de Abraão

Abraão casou com outra mulher, que se chamava Quetura, e ela lhe deu os seguintes filhos: Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque e Sua. Jocsã foi o pai de Seba e de Dedã. Os descendentes de Dedã foram os assureus, os letuseus e os leumeus. 4Os filhos de Midiã foram Efa, Éfer, Enoque, Abida e Elda. Todos esses foram descendentes de Quetura.
Abraão deixou tudo o que tinha para Isaque, mas deu presentes para os filhos das suas concubinas. E, antes de morrer, separou-os de Isaque e mandou que fossem morar na terra do Oriente.

A morte de Abraão

Abraão viveu cento e setenta e cinco anos. Ele morreu bem velho e foi reunir-se com os seus antepassados no mundo dos mortos. Os seus filhos Isaque e Ismael o sepultaram na caverna de Macpela, que fica a leste de Manre, no campo de Efrom, que era filho de Zoar, o heteu. Este era o campo que Abraão havia comprado dos heteus; Abraão e Sara foram sepultados ali. Depois da morte de Abraão, Deus abençoou Isaque, o filho dele, que morava perto do “Poço Daquele que Vive e Me Vê”.

Os descendentes de Ismael - 1 Crônicas 1.28-33

Ismael, o filho de Abraão e de Agar, a escrava egípcia de Sara, foi pai dos seguintes filhos, por ordem de nascimento: Nebaiote, o filho mais velho, e em seguida Quedar, Abdeel, Mibsão, Misma, Dumá, Massá, Hadade, Tema, Jetur, Nafis e Quedemá. São esses os doze filhos de Ismael; as suas terras e os seus acampamentos receberam os nomes deles. Cada um era chefe da sua própria tribo. Ismael tinha cento e trinta e sete anos quando morreu, indo reunir-se assim com os seus antepassados no mundo dos mortos. Os descendentes de Ismael viveram na região que fica entre Havilá e Sur, a leste do Egito, ao longo da estrada que vai para a Assíria. Eles viviam separados dos outros descendentes de Abraão.

O nascimento de Esaú e de Jacó
Esta é a história de Isaque, filho de Abraão. Isaque tinha quarenta anos quando casou com Rebeca, filha de Betuel e irmã de Labão. Eles eram arameus e moravam na Mesopotâmia. Rebeca não podia ter filhos, e por isso Isaque orou a Deus, o Senhor, em favor dela. O Senhor ouviu a oração dele, e Rebeca ficou grávida. Na barriga dela havia gêmeos, e eles lutavam um com o outro. Ela pensou assim: “Por que está me acontecendo uma coisa dessas?” Então foi perguntar a Deus, o Senhor, e ele respondeu:
“No seu ventre há duas nações;você dará à luz dois povos inimigos.Um será mais forte do que o outro,e o mais velho será dominadopelo mais moço.”

Chegou o tempo de Rebeca dar à luz, e ela teve dois meninos. O que nasceu primeiro era vermelho e peludo como um casaco de pele; por isso lhe deram o nome de Esaú. O segundo nasceu agarrando o calcanhar de Esaú com uma das mãos, e por isso lhe deram o nome de Jacó. Isaque tinha sessenta anos quando Rebeca teve os gêmeos.
Esaú vende os seus direitos de filho mais velho

Os meninos cresceram. Esaú gostava de viver no campo e se tornou um bom caçador. Jacó, pelo contrário, era um homem sossegado, que gostava de ficar em casa. Isaque amava mais Esaú porque gostava de comer da carne dos animais que ele caçava. Rebeca, por sua vez, preferia Jacó.
Um dia, quando Jacó estava cozinhando um ensopado, Esaú chegou do campo, muito cansado, e foi dizendo:
— Estou morrendo de fome. Por favor, me deixe comer dessa coisa vermelha aí (Por isso puseram em Esaú o nome de Edom.).
Jacó respondeu:
— Sim, eu deixo; mas só se você passar para mim os seus direitos de filho mais velho.
Esaú disse:
— Está bem. Eu estou quase morrendo; que valor têm para mim esses direitos de filho mais velho?
— Então jure primeiro — disse Jacó.

Esaú fez um juramento e assim passou a Jacó os seus direitos de filho mais velho. Aí Jacó lhe deu pão e o ensopado. Quando Esaú acabou de comer e de beber, levantou-se e foi embora. Foi assim que ele desprezou os seus direitos de filho mais velho.


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