sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

É realmente amor?

Satanás está afanosamente empenhado em influenciar pessoas inteiramente desencontradas entre si, a ligarem seus interesses. Ele exulta nesta obra, pois pode assim trazer mais miséria e desesperado infortúnio à família humana do que exercendo sua habilidade em qualquer outro sentido. Muitos casamentos só podem produzir misérias; e no entanto o espírito dos jovens corre por esse trilho, porque Satanás os leva ali, fazendo-os crer que precisam casar para serem felizes, quando é certo que não possuem habilidade para controlar-se ou sustentar a família. Os que não estão dispostos a adaptar-se ao temperamento um do outro, bem como abandonar desagradáveis divergências e controvérsias, não devem dar o passo. Esse assunto de casamento deve ser um estudo, em vez de uma questão de impulso.

É amor verdadeiro?

O verdadeiro amor é um princípio elevado e santo, inteiramente diferente em seu caráter daquele amor que se desperta por um impulso e que subitamente morre quando severamente provado. O verdadeiro amor não é uma forte, ardente e impetuosa paixão. Ao contrário, é calmo e profundo em sua natureza. Olha para além das meras exterioridades, sendo atraído pelas qualidades apenas. É sábio e apto a discernir, e sua dedicação é real e permanente. É o amor um dom precioso, que recebemos de Jesus. A afeição pura e santa não é sentimento, mas princípio. Os que são movidos pelo amor verdadeiro, não são irrazoáveis nem cegos. A brandura, a gentileza, a paciência e a longanimidade, o não se ofender facilmente, o sofrer tudo, esperar tudo, tudo suportar — estes são os frutos dados pela preciosa árvore do amor, árvore de origem celeste. Esta árvore, se nutrida, demonstrar-se-á daquelas que estão sempre verdes. Seus ramos não secarão, não lhe murcharão as folhas. É imortal, eterna, continuamente regada pelos orvalhos celestes.


Amor, uma planta terna
O amor é uma planta de origem celeste, e precisa ser cultivada e nutrida. Corações afetivos, palavras verdadeiras, amoráveis, farão famílias felizes e exercerão influência própria para elevar em todos quantos entram na esfera dessa influência. Embora as mulheres desejem homens de caráter forte e nobre, a quem possam respeitar e amar, essas qualidades precisam estar combinadas com ternura e carinho, paciência e tolerância. A esposa, por sua vez, deve ser alegre, bondosa e dedicada, assemelhando seu gosto ao de seu marido até onde for possível, sem perder sua individualidade. Os dois devem cultivar paciência e bondade, assim esse terno amor de um para com o outro tornará a vida de casados deleitosa e agradável. Aqueles que têm idéias muito elevadas sobre a vida matrimonial, cuja imaginação tem construído castelos no ar, que não têm nada a ver com as perplexidades e problemas da vida, se encontrarão lamentavelmente desapontados diante da realidade. Quando a vida real vier com seus problemas e preocupações, eles estarão totalmente despreparados para enfrentá-los. Esperam perfeição um do outro, mas encontram fraquezas e defeitos; porque homens e mulheres finitos não são perfeitos. Então começam a encontrar defeito um no outro, e a expressar seu desapontamento. Em vez disto, devem tentar ajudar um ao outro a enfrentar corajosamente a batalha da vida.

O poder do amor

O amor é poder. Neste princípio acha-se envolvida força intelectual e moral, e dele não se podem separar. O poder da riqueza tem a tendência de corromper e destruir; o poder da força é potente para causar dano; a excelência e o valor do amor puro, porém, consistem em sua eficiência para fazer bem, e nada senão bem. Tudo quanto é feito por puro amor, por mais pequenino ou desprezível que seja aos olhos dos homens, é inteiramente frutífero; pois Deus olha mais a quanto do amor alguém põe no que faz, do que na quantidade que realiza. O amor é de Deus. O coração não convertido é incapaz de originar ou produzir esta planta de procedência celeste, que só vive e floresce onde Cristo reina. ... O amor não trabalha pelo proveito nem pela recompensa; todavia foi ordenado por Deus que grande ganho acompanhe seguramente toda obra de amor. Este é difusivo em sua natureza e sem ruído em sua maneira de agir, e todavia forte e poderoso em seu desígnio de vencer grandes males. Sua influência é de molde a abrandar e a transformar, e tomará posse da vida dos pecadores e lhes tocará o coração quando todos os outros meios se houverem demonstrado infrutíferos. Onde quer que seja empregado o poder do intelecto, da autoridade ou da força, e não se achar manifestamente presente o amor, as afeições e a vontade daqueles a quem buscamos alcançar tomam uma atitude defensiva ou de repulsa, e acresce-lhes a força de resistência. ... O amor puro é simples em suas maneiras de agir, e distingue-se de qualquer outro princípio de ação. O amor da influência e o desejo de gozar a estima dos outros talvez produzam uma vida bem ordenada e, freqüentemente, uma conduta irrepreensível. O respeito de nós mesmos nos pode levar a evitar a aparência do mal. Um coração egoísta pode praticar ações generosas, reconhecer a verdade presente, e exprimir humildade e afeição de maneira exterior, não obstante os motivos podem ser enganosos e impuros; as ações emanadas de um coração assim podem ser destituídas do sabor da vida, dos frutos de verdadeira santidade, dos princípios do amor puro. O amor deve ser nutrido e cultivado, pois sua influência é divina.

Quando o amor é cego

Duas pessoas travam relações; tornam-se envaidecidas mutuamente, e têm absorvida toda a sua atenção. A razão fica cegada, subvertido o juízo. Não se submetem a nenhuma advertência ou direção, mas insistem em seguir seu próprio caminho, malgrado as conseqüências. O envaidecimento que os possui é como uma epidemia, ou alguma enfermidade contagiosa, que tem de seguir o seu curso; e parece impossível detê-los. Há talvez ao seu redor pessoas que reconhecem que, se as partes interessadas se unirem em casamento, poderia disso resultar tão-somente a infelicidade por toda a vida. Mas as exortações e instâncias que fazem, são debalde. Talvez, por semelhante união, seja mutilada ou destruída a utilidade de uma pessoa que Deus desejaria abençoar em Seu serviço; mas os arrazoamentos e a persuasão são desatendidos. Tudo o que possam dizer homens e mulheres de experiência, não tem efeito; é impotente para mudar a decisão a que os levaram seus desejos. Perdem o interesse no culto de oração e em tudo que faz parte da religião. Acham-se por completo envaidecidos um com o outro, e negligenciam os deveres da vida como se fossem questões de pouca importância. ... Sob o feitiço desse envaidecimento é sacrificado o bom nome da honra, e o casamento de tais pessoas não pode realizar-se com a aprovação de Deus. Casam-se porque a isso os levou a paixão, e passada a novidade do caso, começam a reconhecer o que fizeram. Dentro de seis meses depois de feitos os votos, seus sentimentos mútuos sofreram alteração. Cada um ficou conhecendo melhor, depois de casado, o caráter do companheiro escolhido. Cada qual descobre imperfeições que, durante a cegueira e loucura de sua associação antes de se casarem, não eram aparentes. As promessas feitas perante o altar já não os prendem. Em conseqüência de casamentos precipitados, mesmo entre o professo povo de Deus, há separações, divórcios, e grande confusão na igreja. ... Quando já é tarde demais, descobrem que cometeram erro e puseram em perigo sua felicidade nesta vida, e a salvação de sua alma. Achavam que nenhum outro sabia alguma coisa sobre o assunto; se, porém, tivessem aceito conselhos, poderiam ter-se poupado anos de ansiedade e tristezas. Mas, para com os que estão resolvidos a seguir o seu próprio caminho, os conselhos são debalde. A paixão leva essas pessoas através de todas as barreiras que a razão e juízo lhes possam contrapor. Pesem cada sentimento e observem todo desenvolvimento de caráter na pessoa a quem pretendem ligar o destino de sua vida. O passo que vão dar é um dos mais importantes de sua vida, e não deve ser dado precipitadamente. Conquanto possam amar, não amem cegamente. Espero que tenha respeito próprio suficiente para evitar esta forma de namoro. Se deseja sinceramente a glória de Deus, agirá com decidida cautela. Não tolerará que um doentio sentimentalismo amoroso lhe cegue a visão por tal forma, que não possa discernir os altos direitos de Deus sobre você como cristão. Várias questões desafiadoras são levantadas nesta carta. Parece que ambos são demasiado jovens e imaturos para pensar em casamento. São sugeridas algumas evidências de imaturidade. Há o problema de superficialidade por parte da moça. É considerada a questão se o amor é real ou paixão. Ellen White insiste com esse jovem para dar mais atenção ao caso e não pensar apenas no momento.

Salem, Oregon
8 de Julho de 1880 
 
Estimado João,
Sinto muito que você tenha se envolvido num namoro com Elizabete. Em primeiro lugar, sua ansiedade quanto a esse assunto é prematura. Falo-lhe como alguém que tem experiência. Espere até que você adquira algum conhecimento exato de si mesmo e do mundo, e da conduta e caráter da moça antes que o tema do casamento ocupe seus pensamentos. Elizabete nunca o elevará. Ela não possui as faculdades ocultas que, desenvolvidas, fariam dela uma mulher prudente e habilitada para permanecer ao seu lado, para auxiliá-lo nas lutas da vida. Falta-lhe amadurecimento de caráter. Não possui profundidade de pensamento nem mente aberta que poderiam lhe ser um auxílio. Você olha o superficial e isso é tudo que existe. Se você se casar, em pouco tempo o encanto será quebrado. Passada a novidade da vida de casados, você enxergará as coisas em seu aspecto real, e perceberá que cometeu um lamentável engano. O amor é um sentimento tão sagrado que poucos o experimentam. É um termo usado, mas não compreendido. O cálido fulgor do impulso, da fascinação de um rapaz por uma moça ou vice-versa, não é amor e não faz jus a esse nome. O verdadeiro amor tem base intelectual, através de um profundo conhecimento da pessoa amada. Lembre-se que o amor impulsivo é completamente cego. Tanto é depositado sobre coisas indignas como dignas. Controle esse amor para mantê-lo calmo e tranqüilo. Dê lugar ao pensamento genuíno e profundo, à reflexão intensa. É esse objeto de sua afeição, na escala de inteligência e excelência moral, em conduta e em boas maneiras, de tal natureza que sentirá orgulho ao apresentá-la à sua família, e ao reconhecê-la perante a sociedade como o objeto de sua escolha? Dê tempo suficiente a si mesmo para observá-la em cada ponto. E então não confie em sua própria decisão. Permita que a mãe que o ama, seu pai e amigos íntimos façam observações críticas àquela que você sente-se inclinado a preferir. Não confie em seu próprio julgamento. Não se case com alguém que, você sabe, não será uma honra para seus pais, e sim com alguém que tenha inteligência e dignidade moral. A moça que entrega suas afeições a um homem e atrai suas atenções através de suas insinuações, exibindo-se por toda parte onde será notada por ele, a menos que ele se mostre rude, não será a moça com quem queira unir-se. Sua conversação é vulgar e freqüentemente superficial. Será melhor não se casar nunca, do que estar casado e infeliz. Busque conselho de Deus em todas estas coisas. Seja tão calmo e submisso à vontade de Deus de modo que você não seja afetado por uma excitação febril, e assim desqualificado para Seu serviço devido a seus laços afetivos. Temos pouco tempo para armazenar tesouros de boas obras no Céu. Não cometa um erro nisso. Sirva a Deus com afeições não divididas. Seja zeloso e íntegro. Que seu exemplo seja de tal natureza que ajude outros a decidirem-se por Jesus. Os jovens não sabem o poder que sua influência pode ter. Trabalhe para este tempo e para a eternidade.
Sua mãe adotiva
Ellen G. White

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