Foi a cruz,
esse instrumento de vergonha e tortura, que trouxe esperança e salvação ao
mundo. Os discípulos não passavam de pessoas simples, sem dinheiro e com
nenhuma outra arma a não ser a Palavra de Deus; entretanto, na força de Cristo
eles saíram para contar a maravilhosa história da manjedoura e da cruz e para
triunfar sobre toda a oposição. Sem honra ou reconhecimento terrestres, foram
heróis da fé. De seus lábios saíam palavras de divina eloqüência que abalaram o
mundo.
Em
Jerusalém, onde existia o mais profundo preconceito, e onde prevaleciam as mais
confusas idéias com respeito Àquele que havia sido crucificado como malfeitor,
os discípulos continuaram a falar com ousadia as palavras da vida, expondo
perante os judeus a obra e a missão de Cristo, Sua crucifixão, ressurreição e
ascensão. Sacerdotes e príncipes ouviram pasmados o claro, ousado testemunho
dos apóstolos. O poder do Salvador ressurgido tinha, sem dúvida alguma, caído sobre
os discípulos e sua obra era acompanhada por sinais e milagres que aumentavam
diariamente o número de crentes. Ao longo das ruas por onde deviam passar os
discípulos, o povo trazia seus enfermos “para as ruas e os punham em leitos e
em camilhas para que ao menos a sombra de Pedro, quando este passasse, cobrisse
alguns deles”. Atos 5:15. Traziam também os que estavam tomados de
espíritos imundos. As turbas aglomeravam-se-lhes em torno, e os que eram
curados erguiam louvores a Deus, glorificando o nome do Redentor.
Os
sacerdotes e príncipes viram que Cristo era mais enaltecido do que eles.
Ouvindo os saduceus, que não criam na ressurreição, os apóstolos declararem que
Cristo ressuscitara dos mortos, ficaram enraivecidos, compreendendo que, se aos
apóstolos fosse permitido pregar um Salvador ressuscitado e operar milagres em
Seu nome, a doutrina de que não haveria ressurreição seria rejeitada por todos
e a seita dos saduceus logo se extinguiria. Os fariseus ficaram irados ao
perceberem que a tendência do ensino dos discípulos era destruir as cerimônias
judaicas e tornar de nenhum valor as ofertas sacrificais.
Até ali,
todos os esforços feitos para suprimir o novo ensino tinham sido em vão; mas
agora, tanto fariseus como saduceus decidiram que a obra dos discípulos devia
ser contida, pois estava demonstrando serem eles os culpados da morte de Jesus.
Cheios de indignação, os sacerdotes violentamente lançaram mão de Pedro e João
e os encerraram na prisão comum.
Os guias da
nação judaica tinham assinaladamente deixado de cumprir o propósito de Deus
para Seu povo escolhido. Aqueles a quem o Senhor tinha feito depositários da
verdade provaram-se infiéis a seu legado, e Deus escolheu outros para fazerem
Sua obra. Em sua cegueira, esses guias davam, agora, amplo impulso ao que
chamavam justa indignação contra aqueles que estavam pondo de lado suas
acariciadas doutrinas. Não podiam sequer admitir a possibilidade de não haverem
entendido devidamente a Palavra, ou que tivessem interpretado mal ou aplicado
erradamente as Escrituras. Agiam como homens que houvessem perdido a razão. Que
direito têm esses ensinadores, diziam, alguns deles meros pescadores, para
apresentar idéias contrárias às doutrinas que temos ensinado ao povo? Estando
determinados a suprimir o ensino dessas idéias, aprisionavam os que o estavam
apresentando.
Os
discípulos não se intimidaram nem esmoreceram com tal tratamento. O Espírito
Santo lhes trouxe à mente as palavras proferidas por Cristo: “Não é o servo
maior do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a
vós; se guardaram a Minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto vos
farão por causa do Meu nome; porque não conhecem Aquele que Me enviou”. João 15:20, 21. “Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem
mesmo a hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a Deus”
“Tenho-vos dito isto, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de
que já vo-lo tinha dito”. João 16:2, 4.
O Deus do
Céu, o poderoso Governador do Universo, tomou em Suas mãos a questão do
aprisionamento dos discípulos; pois homens estavam a guerrear contra a Sua
obra. À noite, o anjo do Senhor abriu as portas da prisão e disse aos
discípulos: “Ide, apresentai-vos no templo e dizei ao povo todas as palavras
desta vida”. Atos 5:20. Essa ordem era diretamente contrária à
ordem dada pelos chefes judeus; porventura disseram os apóstolos: Não podemos
fazer isto sem ter consultado os magistrados e recebido deles permissão? Não!
Deus dissera: “Ide”, e eles obedeceram. “Entraram de manhã cedo no templo, e
ensinavam”. Atos 5:21.
Quando
Pedro e João apareceram entre os crentes e contaram como o anjo os havia guiado
diretamente através do grupo de soldados que guardavam a prisão, ordenando-lhes
retomar a obra interrompida, os irmãos se encheram de espanto e alegria.
Nesse
intervalo, o sumo sacerdote e os que com ele estavam convocaram o conselho, “e
a todos os anciãos dos filhos de Israel” Os sacerdotes e príncipes resolveram
atribuir aos discípulos a acusação de insurreição, culpando-os do assassínio de
Ananias e Safira e de conspiração para despojarem os sacerdotes de sua
autoridade. Esperavam despertar a turba de tal maneira que essa decidisse tomar
a questão nas mãos e tratar com os discípulos como haviam feito com Jesus. Eles
sabiam que muitos que não haviam
aceitado os ensinos de Cristo estavam cansados do arbitrário governo das
autoridades judaicas e ansiosos por alguma mudança. Os sacerdotes temiam que,
se esses descontentes fossem levados a aceitar as verdades proclamadas pelos
apóstolos e a reconhecer Jesus como o Messias, a ira de todo o povo se
levantaria contra os guias religiosos, fazendo-os responder pelo assassínio de
Cristo. Decidiram, então, tomar medidas drásticas para prevenir isso.
Quando
mandaram trazer os prisioneiros a sua presença, grande foi o seu espanto ante a
resposta de que as portas da prisão foram encontradas seguramente fechadas e a
guarda estacionada perante elas, mas não se encontravam os prisioneiros em
parte alguma.
Logo chegou
a estranha notícia: “Eis que os homens que encerrastes na prisão estão no
templo e ensinam ao povo. Então foi o capitão com os servidores, e os trouxe,
não com violência (porque temiam ser apedrejados pelo povo)”. Atos 5:25, 26.
Embora os
apóstolos tivessem sido miraculosamente libertados da prisão, não escaparam ao
interrogatório e castigo. Cristo dissera, quando estava com eles: “Mas olhai
por vós mesmos, porque vos entregarão aos concílios”. Marcos 13:9. Enviando um anjo para os livrar, Deus
lhes dera um sinal de Seu amor e certeza de Sua presença. Cabia-lhes agora
sofrer por amor dAquele cujo evangelho estavam pregando.
Na história
dos profetas e apóstolos, existem muitos nobres exemplos de lealdade para com
Deus. As testemunhas de Cristo têm suportado a prisão, tortura e a própria
morte, de preferência a violar os mandamentos de Deus. O relatório deixado por
Pedro e João é tão heróico como outros da dispensação cristã. Achando-se eles
pela segunda vez perante os homens que pareciam empenhados em efetuar a sua
destruição, nenhum temor ou hesitação se poderia divisar em suas palavras e
atitudes. E quando o sumo sacerdote disse: “Não vos admoestamos nós
expressamente que não ensinásseis nesse nome? E eis que enchestes Jerusalém
dessa vossa doutrina, e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem”, Pedro
respondeu: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Atos 5:28, 29. Foi um anjo do Céu que os livrou da
prisão e os mandou ensinar no templo. Seguindo suas instruções estavam
obedecendo à ordem divina; e isso deveriam continuar a fazer, custasse o que
custasse.
Então, o
Espírito de Inspiração sobreveio aos discípulos; os acusados se tornaram os
acusadores, denunciando como assassinos de Cristo aqueles que compunham o
concílio. “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus,” declarou Pedro, “ao qual
vós matastes, suspendendo-O no madeiro. Deus com a Sua destra O elevou a
Príncipe e Salvador, para dar a Israel o arrependimento e remissão dos pecados.
E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo
que Deus deu àqueles que Lhe obedecem”. Atos 5:30-32.
Tão
enraivecidos ficaram os judeus com essas palavras que se decidiram a fazer
justiça pelas próprias mãos e, sem mais processo, ou sem autoridade dos
oficiais romanos, intentaram matar os presos. Já culpados do sangue de Cristo,
estavam agora ávidos de manchar as mãos com o sangue de Seus discípulos.
Mas no
concílio houve um homem que reconheceu a voz de Deus nas palavras proferidas
pelos discípulos. Esse homem foi Gamaliel, fariseu de boa reputação e homem de
saber e alta posição. Seu claro intelecto viu que o passo violento que tinham
em vista os sacerdotes, traria terríveis conseqüências. Antes de se dirigir aos
presentes, pediu que os presos fossem afastados. Bem conhecia os elementos com
quem tinha de tratar; sabia que os assassinos de Cristo em nada hesitariam a
fim de executar seu propósito.
Falou,
então, com grande ponderação e calma, dizendo: “Varões israelitas,
acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Porque antes
destes dias levantou-se Teudas, dizendo ser alguém: a este se ajuntou o número
de uns quatrocentos homens; o qual foi morto, e todos os que lhe deram ouvidos
foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste levantou-se Judas, o galileu,
nos dias do alistamento, e levou muito povo após si; mas também este pereceu, e
todos os que lhe deram ouvidos foram dispersos. E agora digo-vos: dai de mão a
estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou essa obra é de homens,
se desfará. Mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la; para que não aconteça
serdes também achados combatendo contra Deus”. Atos 5:35-39.
Os sacerdotes viram a racionalidade dessas
opiniões, e foram obrigados a concordar com Gamaliel. Contudo, seu preconceito
e ódio dificilmente podiam ser restringidos. Muito relutantemente, depois de
castigar os discípulos, e ordenar-lhes de novo, sob pena de morte, a não mais
pregarem no nome de Jesus, soltaram-nos. “Retiraram-se pois da presença do
conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo
nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar,
e de anunciar a Jesus Cristo”. Atos 5:41, 42.
Pouco tempo
antes de Sua crucifixão, Cristo tinha garantido a Seus discípulos um legado de
paz. “Deixo-vos a paz,” disse Ele, “a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o
mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize”. João 14:27. Essa paz não é a paz que se obtém
mediante a conformação com o mundo. Cristo jamais comprou a paz condescendendo
com o mal. A paz que Cristo deixou a Seus discípulos é, antes, interna que
externa, e sempre devia permanecer com Suas testemunhas nas lutas e contendas.
Falando de
Si, Cristo disse: “Não cuideis que vim trazer a paz à Terra; não vim trazer
paz, mas espada”. Mateus 10:34. Príncipe da paz, era Ele não obstante
causa de divisão. Aquele que veio proclamar alegres novas e promover a
esperança e alegria no coração dos filhos dos homens, abriu uma controvérsia
que arde profundamente e desperta intensa paixão no coração humano. E Ele adverte Seus
seguidores: “No mundo tereis aflições”. João 16:33. “Lançarão mão de vós, e vos perseguirão,
entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e
presidentes, por amor do Meu nome” “E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e
amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós”. Lucas 21:12, 16.
Essa
profecia tem sido cumprida de modo notável. Toda indignidade, toda injúria,
toda crueldade que Satanás podia instigar o coração humano a imaginar, têm
recaído sobre os seguidores de Jesus. E isso será de novo cumprido; pois o
coração carnal está ainda em inimizade com a lei de Deus, e não se sujeitará a
Seus mandamentos. O mundo não está hoje em maior harmonia com os princípios de
Cristo, do que esteve nos dias dos apóstolos. O mesmo ódio que motivou o
clamor: “Crucifica-O! Crucifica-O!” (Lucas 23:21), o mesmo ódio que levou a perseguição
aos discípulos, ainda atua nos filhos da desobediência. O mesmo espírito que,
nos séculos escuros, enviou homens e mulheres à prisão, ao exílio e à morte;
que concebeu as atrozes torturas da inquisição; que planejou e executou o massacre
de São Bartolomeu e acendeu as fogueiras de Smithfield, está ainda agindo com
maligna energia em corações não regenerados. A história da verdade tem sido
sempre o relato da luta entre o direito e o erro. A proclamação do evangelho
sempre tem sido levada avante neste mundo em face de oposição, perigos, perdas
e sofrimentos.
Em que
consistia a força daqueles que, no passado, sofreram perseguição por amor a
Cristo? Era a união com Deus, união com o Espírito Santo, união com Cristo. A
acusação e a perseguição têm separado muitos de seus amigos terrestres, mas
nunca do amor de Cristo. Nunca a pessoa, provada pela tempestade, é mais
encarecidamente amada por seu Salvador do que quando sofre a perseguição por
amor à verdade. “Eu o amarei”, disse Cristo, “e Me manifestarei a ele”. João 14:21.
Quando, por causa da verdade, o crente se acha perante os tribunais terrestres, Cristo Se acha a seu lado. Quando é encerrado entre as paredes da prisão, Cristo Se lhe manifesta e com Seu amor lhe anima o coração. Quando sofre a morte por amor a Cristo, o Salvador lhe diz: Eles podem matar o corpo, mas não podem matar a alma. “Tende bom ânimo, Eu venci o mundo”. João 16:33. “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça”. Isaías 41:10.
Quando, por causa da verdade, o crente se acha perante os tribunais terrestres, Cristo Se acha a seu lado. Quando é encerrado entre as paredes da prisão, Cristo Se lhe manifesta e com Seu amor lhe anima o coração. Quando sofre a morte por amor a Cristo, o Salvador lhe diz: Eles podem matar o corpo, mas não podem matar a alma. “Tende bom ânimo, Eu venci o mundo”. João 16:33. “Não temas, porque Eu sou contigo; não te assombres, porque Eu sou teu Deus: Eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da Minha justiça”. Isaías 41:10.
“Os que confiam no Senhor serão como o Monte
de Sião, que não se abala, mas permanece para sempre. Como estão os montes à
roda de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do Seu povo desde agora e para
sempre”. Salmos 125:1, 2. “Libertará as suas almas do engano
e da violência, e precioso será o seu sangue aos olhos dEle”. Salmos 72:14.
“O Senhor
dos exércitos os amparará” “E o Senhor seu Deus naquele dia os salvará, como ao
rebanho do Seu povo; porque como as pedras de uma coroa eles serão exaltados na
sua terra”. Zacarias 9:15, 16.
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